Eu jamais vou esquecer o primeiro beijo.
Era a primeira vez que eu a veria sabendo que ela realmente
seria minha. Que finalmente havia alcançado um pequeno espaço em seu precioso
coração. A sensação era incrível. Mas ao mesmo tempo era algo surreal. Parecia
não ser verdade. Havia momentos em que eu pensava que era um sonho. E talvez
tenha sido. Mesmo assim vou tentar descrever...
Um turbilhão de sentimentos me invadia. Alegria, ansiedade,
medo, afeto, tudo. Porém, a felicidade era muito grande e facilmente conseguiu
se sobrepor. Mas conforme o tempo ia passando e a hora de vê-la se aproximando,
a ansiedade e o medo cresceram absurdamente. Havia a possibilidade real de
beija-la. E essa seria a primeira vez que eu beijaria alguém que eu realmente
amasse.
Sim, antes mesmo de tudo eu já a amava. Por isso havia
tanto medo. Até ali tudo que eu conhecia sobre amor era platônico. E estava se
aproximando rapidamente o momento em que esse sentimento deixaria de ser
platônico e se manifestaria, tornando-se palpável. Pela primeira vez na vida eu
viveria uma história real de amor.
Parecia tão improvável. Um cara como eu, que nunca soube
direito o que falar e menos ainda o que fazer. Mas por alguma razão que até
hoje é difícil entender, eu havia conseguido conquistá-la. E para minha
surpresa, alivio e alegria, quando cheguei ao local marcado ela já estava lá me
esperando. Era real, era verdade, não era mais apenas um sonho. Ela estava ali,
sentada me esperando pacientemente. A felicidade transbordava em mim. Porém, a
ansiedade e o nervosismo continuaram comigo.
Lembro-me de ter
me aproximado de uma maneira um pouco desajeitada. Dei um beijo em seu rosto e
um abraço apertado. Ela sugeriu comermos algo, mas meu estomago estava muito
embrulhado para comer ou beber qualquer coisa. Acabamos decidindo ir a um lugar
com menos movimentação. No caminho não resiste e acabei segurando a mão dela, da
maneira mais atrapalhada possível (distraído, desajeitado e atrapalhado, ou
seja, eu!). Mas mesmo assim não a soltei. Minha vontade era de nunca mais a
soltar. E a essa altura, apesar de todo meu esforço, eu já começava a
demonstrar sinais claros de que sua presença mexia muito comigo.
Andamos um pouco e logo encontramos uma arvore que
parecia extremamente aconchegante. A Esse ponto minhas mãos suadas, um leve
tremor e uma gagueira súbita já me denunciavam. Sentamos em baixo da arvore e
conversamos, ela falava muito mais do que eu. Eu nunca fui de falar muito, mas
nesse dia em especial, as palavras pareciam simplesmente enroscar em minha
boca. Apesar de tudo isso, o tão esperado beijo aconteceu. Sem nenhuma menção, nem indícios, ele
simplesmente aconteceu. A iniciativa não partiu de nenhum dos dois, ou talvez
tenha partido dos dois ao mesmo tempo. Eu só sei que ao mesmo tempo em que meus
lábios procuravam os dela, os dela estavam buscando os meus.
Não foi um beijo cinematográfico e nem tínhamos plateia.
Mas isso pouco importava. Quando eu estava com ela me sentia em outro lugar,
como se houvesse outra dimensão. Uma dimensão apenas nossa, e a presença dela
era meu portal.
Foi um beijo sensível, suave, doce e delicado, um beijo
que resumia um pouco do que ela era.
Meu corpo parecia que ia entrar em colapso. Meu coração
acelerado tentava pular para fora do peito, minha respiração ficou ofegante, e
para ajudar, por um breve instante me esqueci completamente que tinha que
respirar. Minhas mãos suavam como se eu estivesse enfrentando o calor
agonizante de um deserto, e meu corpo tremia compulsivamente, não como um leve
tremor de frio, mas como se eu estivesse recebendo uma descarga elétrica extremamente
alta. Obviamente ela percebeu, e diversas vezes falou para que eu me acalmasse.
Mas como eu iria conseguir explicar com simples palavras que tinha acabado de
ir até a lua e voltado?
Simplesmente a beijei mais uma vez... E mais uma ... E
mais uma...
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